John Locke, um explorador do entendimento humano
Pensador
inglês via na mente da criança uma tela em branco que o professor
deveria preencher, fornecendo informações e vivências.
A
influência do inglês John Locke (1632-1704) costuma ser separada em
três grandes áreas. Na política, ele foi o pai do liberalismo como o
conhecemos hoje: é o autor de dois tratados de governo que sustentaram a
implantação da monarquia parlamentarista na Inglaterra, inspiraram a
Constituição dos Estados Unidos e anteciparam as idéias dos iluministas
franceses. Na filosofia, construiu uma teoria do conhecimento inovadora,
que investigou o modo como a mente capta e traduz o mundo exterior. Na
educação, compilou uma série de preceitos sobre aprendizado e
desenvolvimento, com base em sua experiência de médico e preceptor, que
teve grande repercussão nas classes emergentes de seu tempo.
Mas essas três vertentes não são
estanques. A grande e duradoura importância de Locke para a história do
pensamento está no entrecruzamento de suas áreas de estudo. Assim, a
defesa da liberdade individual, que ocupa lugar central na doutrina
política lockiana, encontra correspondência na prioridade que ele
confere, no campo da educação, ao desenvolvimento de um pensamento
próprio pela criança.
E suas investigações sobre o conhecimento o levaram a conceber um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tabula rasa, expressão latina análoga à idéia de uma tela em branco. "A razão, inicialmente, encontra-se apenas em potência na criança", diz Clenio Lago, da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
E suas investigações sobre o conhecimento o levaram a conceber um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tabula rasa, expressão latina análoga à idéia de uma tela em branco. "A razão, inicialmente, encontra-se apenas em potência na criança", diz Clenio Lago, da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
Treino para a razão
É por isso que, para Locke, o aprendizado depende primordialmente das informações e vivências às quais a criança é submetida e que ela absorve de modo relativamente previsível e passivo. É, portanto, um aprendizado de fora para dentro, ao contrário do que defenderam alguns pensadores de linha idealista, como o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), e a maioria dos teóricos da educação contemporâneos.
"A concepção construtivista, por exemplo, institui-se com base na relação entre sujeito e objeto, enquanto a visão lockiana enfatiza apenas o objeto", explica Lago. Embora considerasse que a origem de todas as idéias estava fora do indivíduo, Locke via a capacidade de entendimento como inata e variável de pessoa para pessoa.
Os dois fundamentos iniciais de sua obra mais importante, Ensaio sobre o Entendimento Humano, são a negação da existência de idéias inatas - o que contrariava o legado do filósofo mais influente da época, o francês René Descartes (1596-1650) - e o princípio de que todas as idéias nascem da experiência, refundando, na ciência moderna, o empirismo. Ao combater o inatismo, Locke se opunha às correntes de pensamento que encontravam no ser humano a idéia natural de Deus e noções de moral ou bondade intrínsecas. Tudo isso seria atingido apenas pela razão. Os princípios morais derivariam de considerações a respeito do que é vantajoso para o indivíduo e para a coletividade.
A educação ganhava, desse modo, importância incontornável na formação da criança, uma vez que, sozinha, ela se encontra desprovida de matéria-prima para o raciocínio e sem orientação para adquiri-lo, estando fadada ao egocentrismo e à ignorância moral.
Apesar do valor que dava à racionalidade, Locke era cético quanto ao alcance da compreensão da mente. O objetivo de sua obra principal foi tentar determinar quais são os mecanismos e os limites da capacidade de apreensão do mundo pelo homem. Segundo o filósofo, como todo conhecimento advém, em última instância, dos sentidos, só se pode captar as coisas e os fenômenos em sua superfície, sendo impossível chegar a suas causas primordiais. Do material fornecido pelos sentidos nasceriam as idéias simples que, combinadas, formariam as mais complexas. O conhecimento não passaria de "concordância ou discordância entre as idéias".
Para Locke, as crianças não são dotadas de motivação natural para o aprendizado. É necessário oferecer o conhecimento a elas de modo convidativo - mediante jogos, por exemplo. E, embora desse primazia teórica às sensações, não via nelas função didática: educar com prêmios e punições (para provocar prazer e mal-estar) seria manter os pequenos no estágio mais primário do entendimento humano. Levá-los a pensar faria com que rompessem a dependência dos sentidos. Embora não descartasse a possibilidade de castigos, inclusive corporais, Locke afirmava que seu uso poderia fazer com que as crianças se tornassem adultos frágeis e medrosos.
É por isso que, para Locke, o aprendizado depende primordialmente das informações e vivências às quais a criança é submetida e que ela absorve de modo relativamente previsível e passivo. É, portanto, um aprendizado de fora para dentro, ao contrário do que defenderam alguns pensadores de linha idealista, como o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), e a maioria dos teóricos da educação contemporâneos.
"A concepção construtivista, por exemplo, institui-se com base na relação entre sujeito e objeto, enquanto a visão lockiana enfatiza apenas o objeto", explica Lago. Embora considerasse que a origem de todas as idéias estava fora do indivíduo, Locke via a capacidade de entendimento como inata e variável de pessoa para pessoa.
Os dois fundamentos iniciais de sua obra mais importante, Ensaio sobre o Entendimento Humano, são a negação da existência de idéias inatas - o que contrariava o legado do filósofo mais influente da época, o francês René Descartes (1596-1650) - e o princípio de que todas as idéias nascem da experiência, refundando, na ciência moderna, o empirismo. Ao combater o inatismo, Locke se opunha às correntes de pensamento que encontravam no ser humano a idéia natural de Deus e noções de moral ou bondade intrínsecas. Tudo isso seria atingido apenas pela razão. Os princípios morais derivariam de considerações a respeito do que é vantajoso para o indivíduo e para a coletividade.
A educação ganhava, desse modo, importância incontornável na formação da criança, uma vez que, sozinha, ela se encontra desprovida de matéria-prima para o raciocínio e sem orientação para adquiri-lo, estando fadada ao egocentrismo e à ignorância moral.
Apesar do valor que dava à racionalidade, Locke era cético quanto ao alcance da compreensão da mente. O objetivo de sua obra principal foi tentar determinar quais são os mecanismos e os limites da capacidade de apreensão do mundo pelo homem. Segundo o filósofo, como todo conhecimento advém, em última instância, dos sentidos, só se pode captar as coisas e os fenômenos em sua superfície, sendo impossível chegar a suas causas primordiais. Do material fornecido pelos sentidos nasceriam as idéias simples que, combinadas, formariam as mais complexas. O conhecimento não passaria de "concordância ou discordância entre as idéias".
Para Locke, as crianças não são dotadas de motivação natural para o aprendizado. É necessário oferecer o conhecimento a elas de modo convidativo - mediante jogos, por exemplo. E, embora desse primazia teórica às sensações, não via nelas função didática: educar com prêmios e punições (para provocar prazer e mal-estar) seria manter os pequenos no estágio mais primário do entendimento humano. Levá-los a pensar faria com que rompessem a dependência dos sentidos. Embora não descartasse a possibilidade de castigos, inclusive corporais, Locke afirmava que seu uso poderia fazer com que as crianças se tornassem adultos frágeis e medrosos.
Guia para a formação do cavalheiro
Retrato de um típico gentleman do
século18: educação para a virtude
e as boas maneiras
No livro Alguns Pensamentos Referentes à Educação, Locke afirma que "é
possível levar, facilmente, a alma das crianças numa ou noutra direção,
como a água". Formar um aluno, sob o aspecto intelectual ou moral, seria
exclusivamente um resultado do trabalho das pessoas que os educam -
pais e professores, a quem caberia sobretudo dar o exemplo de como
pensar e se comportar, treinando a criança para agir adequadamente. O
aprendizado deveria ser feito por meio de atividades. A idéia era que a
criança, pelo hábito, acabaria por entender o que está fazendo. Para
Locke, a educação ideal seria promovida em casa, por um preceptor, papel
que ele próprio desempenhou para os filhos de alguns amigos. "Locke
pensou somente nos homens burgueses, destinados a ser os novos
governantes, pois acreditava que por intermédio do exemplo dado por eles
seriam educados os demais", diz Clenio Lago. A conduta e a ética do
gentleman (o cavalheiro burguês), incluindo as boas maneiras, tinham
prioridade sobre a instrução. A saúde e o controle do corpo também
ganharam destaque porque Locke preconizava certo endurecimento físico
para facilitar a autodisciplina e o domínio das paixões.
Biografia
John Locke nasceu em Wrington, no sudoeste da Inglaterra, em 1632. Aos 20 anos, entrou para a Universidade de Oxford, onde orientou os estudos para as ciências naturais e a medicina. Em 1666, numa visita a Oxford, o lorde Anthony Ashley-Cooper, futuro conde de Shaftesbury, precisou de cuidados médicos e foi atendido por Locke. No ano seguinte, ele se tornou conselheiro do lorde para questões de saúde, política e economia. Por influência de Ashley, Locke ajudou a elaborar a Constituição do estado norteamericano da Carolina. Depois de uma temporada na França, o filósofo foi chamado por Ashley a assumir um cargo de conselheiro no governo do rei Carlos II. Uma reviravolta política afastou ambos do poder. Perseguido, Locke se refugiou na Holanda. Com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, voltou na comitiva do novo rei, Guilherme de Orange. Em seus últimos anos, viveu no campo, perto de Oates, e foi mentor intelectual do Partido Liberal. Morreu de causas naturais em 1704.
John Locke nasceu em Wrington, no sudoeste da Inglaterra, em 1632. Aos 20 anos, entrou para a Universidade de Oxford, onde orientou os estudos para as ciências naturais e a medicina. Em 1666, numa visita a Oxford, o lorde Anthony Ashley-Cooper, futuro conde de Shaftesbury, precisou de cuidados médicos e foi atendido por Locke. No ano seguinte, ele se tornou conselheiro do lorde para questões de saúde, política e economia. Por influência de Ashley, Locke ajudou a elaborar a Constituição do estado norteamericano da Carolina. Depois de uma temporada na França, o filósofo foi chamado por Ashley a assumir um cargo de conselheiro no governo do rei Carlos II. Uma reviravolta política afastou ambos do poder. Perseguido, Locke se refugiou na Holanda. Com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, voltou na comitiva do novo rei, Guilherme de Orange. Em seus últimos anos, viveu no campo, perto de Oates, e foi mentor intelectual do Partido Liberal. Morreu de causas naturais em 1704.
O triunfo liberal sobre o poder absoluto
Alegoria do desembarque de Guilherme de
Orange na Inglaterra: vitória da burguesia.
A volta de Locke à Inglaterra, em 1688, na comitiva do novo rei,
Guilherme de Orange, teve um forte aspecto simbólico. Significou o
triunfo das idéias liberais do filósofo a respeito da organização do
Estado e a consolidação do poder político da burguesia. Guilherme de
Orange desembarcou no país com o propósito de recorrer às armas contra o
rei Jaime II, que acabou fugindo para a França. O monarca, católico e
impopular, havia atraído o descontentamento da cúpula da Igreja
Anglicana, que articulou o retorno do futuro soberano. O episódio, que
passou para a história como Revolução Gloriosa, foi na verdade uma
transição pacífica, mas significou uma mudança profunda no sistema
político, antes baseado no poder absoluto do rei. Assim que assumiu,
Guilherme de Orange convocou um Parlamento. A nova casa legislativa
publicou uma declaração de direitos, inaugurando a monarquia
constitucional, que, atualizada, vigora até hoje no país. A deposição de
um rei por descontentamento popular foi ao encontro das idéias que
Locke expôs no Segundo Tratado sobre o Governo. Na obra, o filósofo
defende que a administração do Estado se sustenta num pacto social entre
o rei e o povo, tendo em vista o bem-comum. Se os interesses do povo
são contrariados, justifica-se a deposição do monarca. Locke, para
relativizar o poder do trono, argumentava que todos os cidadãos têm o
direito natural à liberdade e à propriedade, ainda que, no último caso,
excluísse, na prática, aqueles que vendiam sua força de trabalho aos
donos de terras.
Para pensar
Locke acreditava que as crianças vêm ao mundo sem nenhum conhecimento, mas já trazendo inclinações e principalmente um temperamento. O educador deveria observar as características emocionais do aluno para submetê-lo a diferentes métodos de aprendizado. Mesmo que as concepções de conhecimento do filósofo estejam parcialmente ultrapassadas, essa é uma recomendação que ainda pode ser levada em conta. Você, como professor, costuma observar e analisar o temperamento de seus alunos?
Locke acreditava que as crianças vêm ao mundo sem nenhum conhecimento, mas já trazendo inclinações e principalmente um temperamento. O educador deveria observar as características emocionais do aluno para submetê-lo a diferentes métodos de aprendizado. Mesmo que as concepções de conhecimento do filósofo estejam parcialmente ultrapassadas, essa é uma recomendação que ainda pode ser levada em conta. Você, como professor, costuma observar e analisar o temperamento de seus alunos?
Quer saber mais?
História da Educação e da Pedagogia, Lorenzo Luzuriaga, 312 págs., Cia. Ed. Nacional
John Locke, coleção Os Pensadores, 320 págs., Ed. Nova Cultural
Locke e a Educação, Clenio Lago, 130 págs., Ed. Argos
John Locke, coleção Os Pensadores, 320 págs., Ed. Nova Cultural
Locke e a Educação, Clenio Lago, 130 págs., Ed. Argos
John Locke, um explorador do entendimento humano
Pensador
inglês via na mente da criança uma tela em branco que o professor
deveria preencher, fornecendo informações e vivências.
A
influência do inglês John Locke (1632-1704) costuma ser separada em
três grandes áreas. Na política, ele foi o pai do liberalismo como o
conhecemos hoje: é o autor de dois tratados de governo que sustentaram a
implantação da monarquia parlamentarista na Inglaterra, inspiraram a
Constituição dos Estados Unidos e anteciparam as idéias dos iluministas
franceses. Na filosofia, construiu uma teoria do conhecimento inovadora,
que investigou o modo como a mente capta e traduz o mundo exterior. Na
educação, compilou uma série de preceitos sobre aprendizado e
desenvolvimento, com base em sua experiência de médico e preceptor, que
teve grande repercussão nas classes emergentes de seu tempo.
Mas essas três vertentes não são
estanques. A grande e duradoura importância de Locke para a história do
pensamento está no entrecruzamento de suas áreas de estudo. Assim, a
defesa da liberdade individual, que ocupa lugar central na doutrina
política lockiana, encontra correspondência na prioridade que ele
confere, no campo da educação, ao desenvolvimento de um pensamento
próprio pela criança.
E suas investigações sobre o conhecimento o levaram a conceber um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tabula rasa, expressão latina análoga à idéia de uma tela em branco. "A razão, inicialmente, encontra-se apenas em potência na criança", diz Clenio Lago, da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
E suas investigações sobre o conhecimento o levaram a conceber um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tabula rasa, expressão latina análoga à idéia de uma tela em branco. "A razão, inicialmente, encontra-se apenas em potência na criança", diz Clenio Lago, da Universidade do Oeste de Santa Catarina.
Treino para a razão
É por isso que, para Locke, o aprendizado depende primordialmente das informações e vivências às quais a criança é submetida e que ela absorve de modo relativamente previsível e passivo. É, portanto, um aprendizado de fora para dentro, ao contrário do que defenderam alguns pensadores de linha idealista, como o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), e a maioria dos teóricos da educação contemporâneos.
"A concepção construtivista, por exemplo, institui-se com base na relação entre sujeito e objeto, enquanto a visão lockiana enfatiza apenas o objeto", explica Lago. Embora considerasse que a origem de todas as idéias estava fora do indivíduo, Locke via a capacidade de entendimento como inata e variável de pessoa para pessoa.
Os dois fundamentos iniciais de sua obra mais importante, Ensaio sobre o Entendimento Humano, são a negação da existência de idéias inatas - o que contrariava o legado do filósofo mais influente da época, o francês René Descartes (1596-1650) - e o princípio de que todas as idéias nascem da experiência, refundando, na ciência moderna, o empirismo. Ao combater o inatismo, Locke se opunha às correntes de pensamento que encontravam no ser humano a idéia natural de Deus e noções de moral ou bondade intrínsecas. Tudo isso seria atingido apenas pela razão. Os princípios morais derivariam de considerações a respeito do que é vantajoso para o indivíduo e para a coletividade.
A educação ganhava, desse modo, importância incontornável na formação da criança, uma vez que, sozinha, ela se encontra desprovida de matéria-prima para o raciocínio e sem orientação para adquiri-lo, estando fadada ao egocentrismo e à ignorância moral.
Apesar do valor que dava à racionalidade, Locke era cético quanto ao alcance da compreensão da mente. O objetivo de sua obra principal foi tentar determinar quais são os mecanismos e os limites da capacidade de apreensão do mundo pelo homem. Segundo o filósofo, como todo conhecimento advém, em última instância, dos sentidos, só se pode captar as coisas e os fenômenos em sua superfície, sendo impossível chegar a suas causas primordiais. Do material fornecido pelos sentidos nasceriam as idéias simples que, combinadas, formariam as mais complexas. O conhecimento não passaria de "concordância ou discordância entre as idéias".
Para Locke, as crianças não são dotadas de motivação natural para o aprendizado. É necessário oferecer o conhecimento a elas de modo convidativo - mediante jogos, por exemplo. E, embora desse primazia teórica às sensações, não via nelas função didática: educar com prêmios e punições (para provocar prazer e mal-estar) seria manter os pequenos no estágio mais primário do entendimento humano. Levá-los a pensar faria com que rompessem a dependência dos sentidos. Embora não descartasse a possibilidade de castigos, inclusive corporais, Locke afirmava que seu uso poderia fazer com que as crianças se tornassem adultos frágeis e medrosos.
É por isso que, para Locke, o aprendizado depende primordialmente das informações e vivências às quais a criança é submetida e que ela absorve de modo relativamente previsível e passivo. É, portanto, um aprendizado de fora para dentro, ao contrário do que defenderam alguns pensadores de linha idealista, como o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), e a maioria dos teóricos da educação contemporâneos.
"A concepção construtivista, por exemplo, institui-se com base na relação entre sujeito e objeto, enquanto a visão lockiana enfatiza apenas o objeto", explica Lago. Embora considerasse que a origem de todas as idéias estava fora do indivíduo, Locke via a capacidade de entendimento como inata e variável de pessoa para pessoa.
Os dois fundamentos iniciais de sua obra mais importante, Ensaio sobre o Entendimento Humano, são a negação da existência de idéias inatas - o que contrariava o legado do filósofo mais influente da época, o francês René Descartes (1596-1650) - e o princípio de que todas as idéias nascem da experiência, refundando, na ciência moderna, o empirismo. Ao combater o inatismo, Locke se opunha às correntes de pensamento que encontravam no ser humano a idéia natural de Deus e noções de moral ou bondade intrínsecas. Tudo isso seria atingido apenas pela razão. Os princípios morais derivariam de considerações a respeito do que é vantajoso para o indivíduo e para a coletividade.
A educação ganhava, desse modo, importância incontornável na formação da criança, uma vez que, sozinha, ela se encontra desprovida de matéria-prima para o raciocínio e sem orientação para adquiri-lo, estando fadada ao egocentrismo e à ignorância moral.
Apesar do valor que dava à racionalidade, Locke era cético quanto ao alcance da compreensão da mente. O objetivo de sua obra principal foi tentar determinar quais são os mecanismos e os limites da capacidade de apreensão do mundo pelo homem. Segundo o filósofo, como todo conhecimento advém, em última instância, dos sentidos, só se pode captar as coisas e os fenômenos em sua superfície, sendo impossível chegar a suas causas primordiais. Do material fornecido pelos sentidos nasceriam as idéias simples que, combinadas, formariam as mais complexas. O conhecimento não passaria de "concordância ou discordância entre as idéias".
Para Locke, as crianças não são dotadas de motivação natural para o aprendizado. É necessário oferecer o conhecimento a elas de modo convidativo - mediante jogos, por exemplo. E, embora desse primazia teórica às sensações, não via nelas função didática: educar com prêmios e punições (para provocar prazer e mal-estar) seria manter os pequenos no estágio mais primário do entendimento humano. Levá-los a pensar faria com que rompessem a dependência dos sentidos. Embora não descartasse a possibilidade de castigos, inclusive corporais, Locke afirmava que seu uso poderia fazer com que as crianças se tornassem adultos frágeis e medrosos.
Guia para a formação do cavalheiro
Retrato de um típico gentleman do
século18: educação para a virtude
e as boas maneiras
No livro Alguns Pensamentos Referentes à Educação, Locke afirma que "é
possível levar, facilmente, a alma das crianças numa ou noutra direção,
como a água". Formar um aluno, sob o aspecto intelectual ou moral, seria
exclusivamente um resultado do trabalho das pessoas que os educam -
pais e professores, a quem caberia sobretudo dar o exemplo de como
pensar e se comportar, treinando a criança para agir adequadamente. O
aprendizado deveria ser feito por meio de atividades. A idéia era que a
criança, pelo hábito, acabaria por entender o que está fazendo. Para
Locke, a educação ideal seria promovida em casa, por um preceptor, papel
que ele próprio desempenhou para os filhos de alguns amigos. "Locke
pensou somente nos homens burgueses, destinados a ser os novos
governantes, pois acreditava que por intermédio do exemplo dado por eles
seriam educados os demais", diz Clenio Lago. A conduta e a ética do
gentleman (o cavalheiro burguês), incluindo as boas maneiras, tinham
prioridade sobre a instrução. A saúde e o controle do corpo também
ganharam destaque porque Locke preconizava certo endurecimento físico
para facilitar a autodisciplina e o domínio das paixões.
Biografia
John Locke nasceu em Wrington, no sudoeste da Inglaterra, em 1632. Aos 20 anos, entrou para a Universidade de Oxford, onde orientou os estudos para as ciências naturais e a medicina. Em 1666, numa visita a Oxford, o lorde Anthony Ashley-Cooper, futuro conde de Shaftesbury, precisou de cuidados médicos e foi atendido por Locke. No ano seguinte, ele se tornou conselheiro do lorde para questões de saúde, política e economia. Por influência de Ashley, Locke ajudou a elaborar a Constituição do estado norteamericano da Carolina. Depois de uma temporada na França, o filósofo foi chamado por Ashley a assumir um cargo de conselheiro no governo do rei Carlos II. Uma reviravolta política afastou ambos do poder. Perseguido, Locke se refugiou na Holanda. Com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, voltou na comitiva do novo rei, Guilherme de Orange. Em seus últimos anos, viveu no campo, perto de Oates, e foi mentor intelectual do Partido Liberal. Morreu de causas naturais em 1704.
John Locke nasceu em Wrington, no sudoeste da Inglaterra, em 1632. Aos 20 anos, entrou para a Universidade de Oxford, onde orientou os estudos para as ciências naturais e a medicina. Em 1666, numa visita a Oxford, o lorde Anthony Ashley-Cooper, futuro conde de Shaftesbury, precisou de cuidados médicos e foi atendido por Locke. No ano seguinte, ele se tornou conselheiro do lorde para questões de saúde, política e economia. Por influência de Ashley, Locke ajudou a elaborar a Constituição do estado norteamericano da Carolina. Depois de uma temporada na França, o filósofo foi chamado por Ashley a assumir um cargo de conselheiro no governo do rei Carlos II. Uma reviravolta política afastou ambos do poder. Perseguido, Locke se refugiou na Holanda. Com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, voltou na comitiva do novo rei, Guilherme de Orange. Em seus últimos anos, viveu no campo, perto de Oates, e foi mentor intelectual do Partido Liberal. Morreu de causas naturais em 1704.
O triunfo liberal sobre o poder absoluto
Alegoria do desembarque de Guilherme de
Orange na Inglaterra: vitória da burguesia.
A volta de Locke à Inglaterra, em 1688, na comitiva do novo rei,
Guilherme de Orange, teve um forte aspecto simbólico. Significou o
triunfo das idéias liberais do filósofo a respeito da organização do
Estado e a consolidação do poder político da burguesia. Guilherme de
Orange desembarcou no país com o propósito de recorrer às armas contra o
rei Jaime II, que acabou fugindo para a França. O monarca, católico e
impopular, havia atraído o descontentamento da cúpula da Igreja
Anglicana, que articulou o retorno do futuro soberano. O episódio, que
passou para a história como Revolução Gloriosa, foi na verdade uma
transição pacífica, mas significou uma mudança profunda no sistema
político, antes baseado no poder absoluto do rei. Assim que assumiu,
Guilherme de Orange convocou um Parlamento. A nova casa legislativa
publicou uma declaração de direitos, inaugurando a monarquia
constitucional, que, atualizada, vigora até hoje no país. A deposição de
um rei por descontentamento popular foi ao encontro das idéias que
Locke expôs no Segundo Tratado sobre o Governo. Na obra, o filósofo
defende que a administração do Estado se sustenta num pacto social entre
o rei e o povo, tendo em vista o bem-comum. Se os interesses do povo
são contrariados, justifica-se a deposição do monarca. Locke, para
relativizar o poder do trono, argumentava que todos os cidadãos têm o
direito natural à liberdade e à propriedade, ainda que, no último caso,
excluísse, na prática, aqueles que vendiam sua força de trabalho aos
donos de terras.
Para pensar
Locke acreditava que as crianças vêm ao mundo sem nenhum conhecimento, mas já trazendo inclinações e principalmente um temperamento. O educador deveria observar as características emocionais do aluno para submetê-lo a diferentes métodos de aprendizado. Mesmo que as concepções de conhecimento do filósofo estejam parcialmente ultrapassadas, essa é uma recomendação que ainda pode ser levada em conta. Você, como professor, costuma observar e analisar o temperamento de seus alunos?
Locke acreditava que as crianças vêm ao mundo sem nenhum conhecimento, mas já trazendo inclinações e principalmente um temperamento. O educador deveria observar as características emocionais do aluno para submetê-lo a diferentes métodos de aprendizado. Mesmo que as concepções de conhecimento do filósofo estejam parcialmente ultrapassadas, essa é uma recomendação que ainda pode ser levada em conta. Você, como professor, costuma observar e analisar o temperamento de seus alunos?
Quer saber mais?
História da Educação e da Pedagogia, Lorenzo Luzuriaga, 312 págs., Cia. Ed. Nacional
John Locke, coleção Os Pensadores, 320 págs., Ed. Nova Cultural
Locke e a Educação, Clenio Lago, 130 págs., Ed. Argos
John Locke, coleção Os Pensadores, 320 págs., Ed. Nova Cultural
Locke e a Educação, Clenio Lago, 130 págs., Ed. Argos
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