Governo desiste de antecipar alfabetização do 3º para o 2º ano
(Foto: Diego Padgurschi - 27.mar.2017/ Folhapress)
O Ministério da Educação do governo Temer (PMDB) decidiu
rever sua decisão de antecipar o término do ciclo de alfabetização do
3º para o 2º ano do ensino fundamental. A avaliação dos alunos, porém,
será feita um ano antes do fim desse prazo.
A
antecipação do ciclo estava prevista na versão mais recente da nova
base nacional curricular, em fase final de preparação e que servirá de
referência em escolas públicas e privadas.
O
texto enviado em abril pelo ministério ao Conselho Nacional de
Educação, órgão que analisa políticas para a área, previa que os alunos
fossem alfabetizados até o 2º ano –correspondente à idade de sete anos.
O Plano Nacional de Educação, lei com metas para a área, coloca como parâmetro o 3º ano –equivalente aos oito anos de idade.
No
conselho, a proposta do ministério enfrentou resistência. Ao longo de
audiências públicas, secretários de Educação municipais reclamaram que,
hoje, programas federais, como o Pacto pela Alfabetização na Idade
Certa, levam em consideração o limite de oito anos.
Alfabetização no Brasil
Como é hoje
Alfabetização deve ocorrer até o 3º ano do ensino fundamental; avaliação nacional é feita no próprio 3º ano
Alfabetização deve ocorrer até o 3º ano do ensino fundamental; avaliação nacional é feita no próprio 3º ano
O que o MEC queria
Antecipar a data-limite da alfabetização para o 2º ano do ensino fundamental
Antecipar a data-limite da alfabetização para o 2º ano do ensino fundamental
A controvérsia
No Conselho Nacional de Educação, prefeituras reclamaram que a mudança geraria problemas como repetência
No Conselho Nacional de Educação, prefeituras reclamaram que a mudança geraria problemas como repetência
Como vai ficar
Acordo prevê 3º ano como limite, mas escolas devem priorizar o tema nos dois primeiros anos. Exame nacional será feito no 2º ano
Acordo prevê 3º ano como limite, mas escolas devem priorizar o tema nos dois primeiros anos. Exame nacional será feito no 2º ano
Um
dos relatores da base no conselho nacional, César Callegari, secretário
de Educação Básica do MEC na gestão Dilma Rousseff (PT), também vem se
manifestando contrário à medida.
O
processo de alfabetização, diz ele, tem que levar em conta a
diversidade de contextos sociais dos alunos. Crianças que têm pais mais
escolarizados, por exemplo, podem ter mais facilidade.
"Tenho
convicção de que o 3º ano é o melhor momento, consideradas as
diferenças de amadurecimento, repertório de casa e trajetórias das
crianças", diz. "Algumas crianças podem se alfabetizar antes, mas
colocar um limite precoce pode produzir um conjunto de traumas". Há
ainda o risco, afirma, de aumentar a repetência nessa faixa etária.
Segundo ele, questões como essa serão levadas em conta na decisão do conselho.
A
secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, adianta,
porém, que a pasta já chegou a um acordo com o órgão. Será uma espécie
de solução intermediária. Por um lado, o capítulo da base relativo a
esse tema será modificado, e o limite para o ciclo de alfabetização
voltará a ser o 3º ano.
Por
outro lado, o ministério insiste que ocorra ao longo do 1º e 2º ano o
letramento, ou seja, a capacidade das crianças de identificar letras e
ler frases curtas, por exemplo. A plena alfabetização, quando o aluno
saberia, por exemplo, ler parágrafos maiores e diferenciar uma carta de
um romance, ficaria para depois.
"O
ciclo de alfabetização será mantido em três anos anos, garantindo que o
letramento seja em dois. O Conselho fez essa proposta e achamos
adequado". Ela afirma que, nessa
linha, o ministério manteve a decisão de fazer a avaliação nacional de
alfabetização ao final do 2º ano, e não no 3º, como vem ocorrendo.
O objetivo, segundo Maria Helena, é que as escolas tenham um diagnóstico rápido do que ainda falta fazer no ano letivo seguinte.
Os
dados da edição mais recente do exame, aplicada em 2014 a crianças do
3º ano, mostram que apenas 78% dos alunos têm aprendizagem considerada
adequada em leitura. Em relação à escrita, o índice é ainda menor, de
66%.
O resultado preocupa, porque é determinante para o desempenho em todas as outras disciplinas ao longo da vida.
Para
Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a decisão de
fazer a avaliação no 2º ano vai fazer com que, na prática, os
municípios forcem a alfabetização até essa série.
Ele
lembra que o recuo do MEC em relação à idade limite é mais um de uma
série. No último ano, a pasta já desistiu de incluir identidade de
gênero na base, voltou atrás em pontos da proposta do ensino médio e
revogou decreto que liberava a educação a distância no ensino
fundamental.
"Tudo isso é consequência de uma gestão que lança ideias sem discussão prévia e, depois, tem que voltar atrás."
Foco Individual
Especialista
no processo de aprendizagem de leitura e escrita, a psicopedagoga Edith
Rubinstein diz que, mais importante do que a idade, é a escola
acompanhar muito de perto o processo de alfabetização de cada aluno.
O desenvolvimento, diz ela, varia de acordo com o contexto familiar –a escolaridade dos pais, o contato com livros etc.
Para
ela, não há diferença significativa entre a idade de sete ou oito anos.
O importante, afirma, é não só garantir a motivação das crianças, mas
também reforçar o desenvolvimento de habilidades mais específicas, o que
muitas vezes não acontece atualmente, em sua avaliação.
"Antigamente,
a criança era ensinada a ler de forma mecânica, para só depois se
interessar pelo conteúdo –o que não era bom", diz ela.
Com o tempo, essa sequência se inverteu, mas a mudança em alguns casos foi exagerada, afirma.
"Algumas
práticas tradicionais, como o treino da escrita e exercícios, foram
deixadas de lado, e muitos alunos têm problemas como deficiência na
coordenação motora fina e dificuldade em diferenciar letras parecidas."
Processo
Diretora
do Colégio Equipe, escola particular na região central de SP, Luciana
Fevorini diz que o processo de letramento varia muito de criança para
criança e tem idas e vindas.
No
início da vida escolar, a ideia da escola é promover um primeiro
contato com a escrita, de forma a despertar um interesse pelo tema. Ao
final do 2º ano, a maioria já está praticamente alfabetizada, afirma.
Fonte: Folha de S. PauloGoverno desiste de antecipar alfabetização do 3º para o 2º ano
(Foto: Diego Padgurschi - 27.mar.2017/ Folhapress)
O Ministério da Educação do governo Temer (PMDB) decidiu
rever sua decisão de antecipar o término do ciclo de alfabetização do
3º para o 2º ano do ensino fundamental. A avaliação dos alunos, porém,
será feita um ano antes do fim desse prazo.
A
antecipação do ciclo estava prevista na versão mais recente da nova
base nacional curricular, em fase final de preparação e que servirá de
referência em escolas públicas e privadas.
O
texto enviado em abril pelo ministério ao Conselho Nacional de
Educação, órgão que analisa políticas para a área, previa que os alunos
fossem alfabetizados até o 2º ano –correspondente à idade de sete anos.
O Plano Nacional de Educação, lei com metas para a área, coloca como parâmetro o 3º ano –equivalente aos oito anos de idade.
No
conselho, a proposta do ministério enfrentou resistência. Ao longo de
audiências públicas, secretários de Educação municipais reclamaram que,
hoje, programas federais, como o Pacto pela Alfabetização na Idade
Certa, levam em consideração o limite de oito anos.
Alfabetização no Brasil
Como é hoje
Alfabetização deve ocorrer até o 3º ano do ensino fundamental; avaliação nacional é feita no próprio 3º ano
Alfabetização deve ocorrer até o 3º ano do ensino fundamental; avaliação nacional é feita no próprio 3º ano
O que o MEC queria
Antecipar a data-limite da alfabetização para o 2º ano do ensino fundamental
Antecipar a data-limite da alfabetização para o 2º ano do ensino fundamental
A controvérsia
No Conselho Nacional de Educação, prefeituras reclamaram que a mudança geraria problemas como repetência
No Conselho Nacional de Educação, prefeituras reclamaram que a mudança geraria problemas como repetência
Como vai ficar
Acordo prevê 3º ano como limite, mas escolas devem priorizar o tema nos dois primeiros anos. Exame nacional será feito no 2º ano
Acordo prevê 3º ano como limite, mas escolas devem priorizar o tema nos dois primeiros anos. Exame nacional será feito no 2º ano
Um
dos relatores da base no conselho nacional, César Callegari, secretário
de Educação Básica do MEC na gestão Dilma Rousseff (PT), também vem se
manifestando contrário à medida.
O
processo de alfabetização, diz ele, tem que levar em conta a
diversidade de contextos sociais dos alunos. Crianças que têm pais mais
escolarizados, por exemplo, podem ter mais facilidade.
"Tenho
convicção de que o 3º ano é o melhor momento, consideradas as
diferenças de amadurecimento, repertório de casa e trajetórias das
crianças", diz. "Algumas crianças podem se alfabetizar antes, mas
colocar um limite precoce pode produzir um conjunto de traumas". Há
ainda o risco, afirma, de aumentar a repetência nessa faixa etária.
Segundo ele, questões como essa serão levadas em conta na decisão do conselho.
A
secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, adianta,
porém, que a pasta já chegou a um acordo com o órgão. Será uma espécie
de solução intermediária. Por um lado, o capítulo da base relativo a
esse tema será modificado, e o limite para o ciclo de alfabetização
voltará a ser o 3º ano.
Por
outro lado, o ministério insiste que ocorra ao longo do 1º e 2º ano o
letramento, ou seja, a capacidade das crianças de identificar letras e
ler frases curtas, por exemplo. A plena alfabetização, quando o aluno
saberia, por exemplo, ler parágrafos maiores e diferenciar uma carta de
um romance, ficaria para depois.
"O
ciclo de alfabetização será mantido em três anos anos, garantindo que o
letramento seja em dois. O Conselho fez essa proposta e achamos
adequado". Ela afirma que, nessa
linha, o ministério manteve a decisão de fazer a avaliação nacional de
alfabetização ao final do 2º ano, e não no 3º, como vem ocorrendo.
O objetivo, segundo Maria Helena, é que as escolas tenham um diagnóstico rápido do que ainda falta fazer no ano letivo seguinte.
Os
dados da edição mais recente do exame, aplicada em 2014 a crianças do
3º ano, mostram que apenas 78% dos alunos têm aprendizagem considerada
adequada em leitura. Em relação à escrita, o índice é ainda menor, de
66%.
O resultado preocupa, porque é determinante para o desempenho em todas as outras disciplinas ao longo da vida.
Para
Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a decisão de
fazer a avaliação no 2º ano vai fazer com que, na prática, os
municípios forcem a alfabetização até essa série.
Ele
lembra que o recuo do MEC em relação à idade limite é mais um de uma
série. No último ano, a pasta já desistiu de incluir identidade de
gênero na base, voltou atrás em pontos da proposta do ensino médio e
revogou decreto que liberava a educação a distância no ensino
fundamental.
"Tudo isso é consequência de uma gestão que lança ideias sem discussão prévia e, depois, tem que voltar atrás."
Foco Individual
Especialista
no processo de aprendizagem de leitura e escrita, a psicopedagoga Edith
Rubinstein diz que, mais importante do que a idade, é a escola
acompanhar muito de perto o processo de alfabetização de cada aluno.
O desenvolvimento, diz ela, varia de acordo com o contexto familiar –a escolaridade dos pais, o contato com livros etc.
Para
ela, não há diferença significativa entre a idade de sete ou oito anos.
O importante, afirma, é não só garantir a motivação das crianças, mas
também reforçar o desenvolvimento de habilidades mais específicas, o que
muitas vezes não acontece atualmente, em sua avaliação.
"Antigamente,
a criança era ensinada a ler de forma mecânica, para só depois se
interessar pelo conteúdo –o que não era bom", diz ela.
Com o tempo, essa sequência se inverteu, mas a mudança em alguns casos foi exagerada, afirma.
"Algumas
práticas tradicionais, como o treino da escrita e exercícios, foram
deixadas de lado, e muitos alunos têm problemas como deficiência na
coordenação motora fina e dificuldade em diferenciar letras parecidas."
Processo
Diretora
do Colégio Equipe, escola particular na região central de SP, Luciana
Fevorini diz que o processo de letramento varia muito de criança para
criança e tem idas e vindas.
No
início da vida escolar, a ideia da escola é promover um primeiro
contato com a escrita, de forma a despertar um interesse pelo tema. Ao
final do 2º ano, a maioria já está praticamente alfabetizada, afirma.
Fonte: Folha de S. Paulo
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